Fungos entomopatogênicos: conheça os principais e como aplicá-los no campo!

Em um cenário onde a sustentabilidade agrícola se tornou prioridade, os fungos entomopatogênicos emergem como ferramentas biotecnológicas de alta relevância no manejo de pragas. 

Ao contrário de defensivos químicos convencionais, sua ação baseia-se em um ciclo natural de infecção, penetração enzimática e multiplicação interna, resultando na morte do hospedeiro e posterior esporulação para continuidade do controle no ambiente. 

Neste artigo, você entenderá como esses fungos atuam no organismo das pragas, quais são os principais isolados utilizados no Brasil, os critérios técnicos para uma aplicação bem-sucedida e como integrá-los ao Manejo Integrado de Pragas (MIP) com precisão e segurança.

O que são fungos entomopatogênicos?

Fungos entomopatogênicos são microrganismos que têm a capacidade de infectar uma ampla variedade de pragas, provocando doenças (epizootias) que podem afetar diretamente a alimentação, a reprodução ou até levar à morte de insetos e ácaros.

Os gêneros fúngicos Beauveria, Metarhizium e Sporothrix estão entre os mais pesquisados e utilizados no manejo de pragas agrícolas, sendo aplicados em diferentes tipos de cultivo.

Como eles atuam contra as pragas?

De forma sucinta, essa forma de controle biológico ocorre nas seguintes etapas.

Adesão dos conídios

É quando os conídios (esporos) entram em contato com a cutícula do inseto e se fixam graças a forças hidrofóbicas e mucilagens produtoras de “cola” (uma espécie de proteína adesiva).

Germinação e penetração

Sobre a cutícula, o conídio germina, forma um tubo germinativo/appressório e libera enzimas (proteases, quitinases, lipases) que digerem queratina, quitina e lipídios. 

A combinação de pressão mecânica e degradação enzimática abre caminho até a hemolinfa.

Colonização interna

No interior, hifas se transformam em blastósporos (bolhas leveduriformes) que se multiplicam rapidamente, consumindo nutrientes e liberando toxinas (por exemplo, destruxinas em Metarhizium, beauvericina em Beauveria). 

O inseto morre por septicemia (infecção generalizada), exaustão energética ou bloqueio de sistemas vitais.

Esporulação

Após a morte, o fungo rompe a cutícula, cobre o hospedeiro de micélio esporulante e libera novos conídios, reiniciando o ciclo.

Quais são os principais tipos aplicados?

No Brasil, os principais fungos entomopatogênicos encontrados são:

  • Beauveria bassiana — um exemplo de sucesso é sua aplicação no controle da broca-do-café (Hypothenemus hampei), que pode resultar em uma redução de até 60% dos frutos atacados no campo.
  • Metarhizium anisopliae — já foi aplicado com sucesso nas cigarrinhas-das-raízes (Mahanarva fimbriolata) na cultura da cana-de-açúcar.
  • Sporothrix insectorum — embora seja um fungo entomopatogênico menos utilizado em comparação aos dois anteriores, já existem relatos de aplicação bem-sucedida em seringueiras no norte do país.

Como aplicar os fungos entomopatogênicos?

Seleção do isolado e alvo biológico

Na hora de escolher o fungo entomopatogênico ideal, garanta a compatibilidade entre a praga e o microrganismo.

Isso significa optar por cepas cuja eficácia já tenha sido comprovada contra o inseto-alvo, seja por meio de bioensaios, seja em estudos realizados na mesma região. É importante lembrar que diferentes cepas de Beauveria bassiana ou Metarhizium anisopliae podem apresentar variações significativas no nível de controle que proporcionam. 

Outro ponto importante é observar o espectro de ação do fungo: quanto mais específico for o isolado em relação à praga que se deseja combater, menores serão os impactos sobre insetos benéficos, como polinizadores e predadores naturais. 

Condições ambientais ideais

A germinação e penetração dos conídios acontecem de forma mais eficiente quando a umidade relativa do ar está acima de 70% e a temperatura varia entre 20 °C e 30 °C.

 Esses fatores criam o ambiente ideal para o desenvolvimento do fungo sobre o corpo do inseto. Também observe a radiação solar: a luz ultravioleta (UV) pode inativar os esporos rapidamente, sendo a principal causa de perda de viabilidade. 

Por isso, realize as aplicações no final da tarde ou utilize formulações com óleo ou protetores UV. 

E atenção: chuvas logo após a aplicação podem lavar os conídios antes que eles se fixem na praga, comprometendo todo o controle. Monitorar a previsão do tempo é, portanto, uma etapa indispensável no planejamento.

Qualidade da formulação

A qualidade do produto biológico é um dos pilares para o sucesso no controle com fungos entomopatogênicos. 

De acordo com as diretrizes do MAPA, a viabilidade mínima recomendada é de 1 × 10⁸ conídios por grama no caso de pós molháveis, ou 10¹² conídios por litro em formulações oleosas. 

Antes de aplicar, verifique a data de fabricação, o teor de umidade e garanta que o produto esteja livre de contaminantes.

 As formulações oleosas, além de prolongarem a vida útil dos conídios, aumentam a aderência ao inseto. 

Já os pós molháveis precisam de uma boa agitação e aplicação uniforme para garantir que os esporos atinjam a praga de forma abrangente.

Técnica e momento de aplicação

A maneira padrão utilizada é a seguinte:

  • Cobertura: conídios precisam atingir o corpo do inseto; use bicos que gerem gotas finas (200–300 µm) e volume de 150–200 L ha⁻¹ em culturas de porte médio.
  • Estádio do inseto: fases jovens ou pouco móveis (ninfas, larvas) são mais suscetíveis.
  • Frequência: repita de 7 – 14 dias se a praga mantiver pressão populacional e as condições climáticas forem favoráveis.

Integração com os outros métodos de controle

Outro diferencial dos fungos entomopatogênicos é a capacidade de se integrarem facilmente a diferentes estratégias do Manejo Integrado de Pragas (MIP)

Dessa forma, são compatíveis com predadores naturais, parasitoides e até mesmo com alguns defensivos químicos seletivos, como os reguladores de crescimento.

No entanto, é preciso cuidado com o uso de fungicidas sistêmicos ou à base de cobre na mesma área ou período, pois esses produtos podem comprometer a viabilidade dos conídios e reduzir drasticamente o efeito do fungo. 

Outro detalhe é seguir os limiares de ação, ou seja, só aplique quando o nível da praga justificar a intervenção. 

O uso de armadilhas e amostragens visuais ajuda a monitorar a população da praga e garante decisões mais certeiras, evitando desperdícios e mantendo o controle sustentável.

Avaliação de eficácia

Entre 3 e 5 dias depois da pulverização, faça a amostragem no campo buscando sinais visíveis de infecção, como insetos mumificados ou com presença de micélio na superfície do corpo. 

Conte e compare a quantidade de pragas vivas e infectadas para ter uma noção do impacto do controle. 

Utilize também um talhão testemunha, sem aplicação, como referência. De modo geral, uma redução de 50% ou mais já é considerada um bom resultado.

À medida que a agricultura caminha para práticas mais alinhadas com os princípios da bioeconomia e da segurança alimentar, o domínio técnico sobre esses microrganismos se torna um diferencial competitivo para o produtor rural e os profissionais do setor.

E você, já teve alguma experiência com o uso de fungos entomopatogênicos na lavoura?  Compartilhe nos comentários!

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