Controle biológico de pragas: conheça a solução sustentável que revoluciona o agro

O controle biológico de pragas é a aplicação deliberada de inimigos naturais — predadores, parasitoides, fungos, bactérias, vírus e nematoides entomopatogênicos — para reduzir populações de pragas a níveis economicamente toleráveis. 

Dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP), essa abordagem combina alta seletividade (atinge apenas o alvo), ausência de resíduos químicos e compatibilidade com outras táticas, como feromônios, armadilhas e defensivos químicos seletivos.

Entretanto, sua adoção exige rigor técnico: escolher o agente certo para cada praga, ajustar dose e sincronizar as liberações ao fenótipo da cultura, além de monitorar fatores ambientais.

Por isso que, para maiores detalhes, neste guia detalhamos como essa estratégia funciona, quais são seus principais tipos e quais agentes biológicos realmente entregam resultado nas condições brasileiras. Boa leitura!

O que é controle biológico de pragas?

Como mencionamos, o controle biológico de pragas é uma abordagem utilizada para diminuir as populações de pragas por meio da ação de seus inimigos naturais, com participação ativa do ser humano no processo. 

Essa técnica envolve o uso de organismos como insetos predadores, parasitoides ou microrganismos, como fungos e vírus, para conter pragas, plantas invasoras e doenças que afetam as lavouras.

Na natureza, essa modalidade ocorre de maneira espontânea. No entanto, é possível que o ser humano atue para intensificar, direcionar ou favorecer a ação dos agentes responsáveis por esse tipo de controle.

Cenário do Brasil com o controle biológico

O Brasil se destaca mundialmente na produção e no uso de bioinsumos, como inoculantes, biofertilizantes e agentes biológicos aplicados no controle de pragas. 

Embora o nosso país se destaque, essa posição vem acompanhada de uma elevada dependência de insumos importados, especialmente os defensivos. 

Esse cenário também o coloca no topo do ranking global de consumo desses químicos. 

Segundo dados da Anvisa, o Brasil utiliza cerca de 19% de todos os produtos fitossanitários produzidos no planeta, o que representa aproximadamente um quinto do consumo mundial.

Por isso que a pesquisa voltada ao controle biológico de pragas abre caminhos para a inovação e o fortalecimento da competitividade na agricultura do Brasil, ao mesmo tempo em que favorece a preservação ambiental e o uso responsável dos recursos ecológicos disponíveis.

Quais os principais tipos de controle biológico?

Controle biológico por importação

O controle biológico por importação é uma técnica que consiste na introdução planejada de inimigos naturais vindos de outras regiões ou países para combater pragas agrícolas exóticas — ou seja, pragas que não são nativas do local onde estão causando danos. 

Essa abordagem tem sido utilizada há décadas em diferentes partes do mundo, com variados níveis de sucesso, e é considerada uma ferramenta importante dentro do manejo integrado de pragas (MIP).

Controle biológico conservativo

O controle biológico conservativo é uma abordagem que busca manejar o agroecossistema de forma a favorecer a presença e o aumento das populações de inimigos naturais, como predadores, parasitoides e microrganismos patogênicos. 

A ideia central é criar um ambiente propício para que esses agentes benéficos se estabeleçam e ajam naturalmente no controle das pragas.

Controle biológico aumentativo

O controle biológico aumentativo é uma técnica utilizada no manejo de pragas que aumenta de maneira artificial a população de inimigos naturais (predadores, parasitoides e patógenos benéficos) no agroecossistema. 

Existem duas formas principais de aplicar o controle biológico aumentativo:

  • Tática inoculativa: envolve a liberação de uma quantidade reduzida de agentes, com o objetivo de que eles se multipliquem no ambiente e controlem a praga ao longo do tempo.
  • Tática inundativa: consiste na liberação em grande escala de inimigos naturais, com foco em um controle mais rápido da praga.

Quais são os melhores agentes utilizados?

Predadores

Ao contrário de outras estratégias passivas, esses organismos atuam de forma ativa, caçando suas presas no ambiente agrícola. 

A seguir, veja os principais predadores utilizados no manejo de pragas e suas características:

  • Joaninhas (Harmonia axyridis, Cycloneda sanguinea): são clássicas aliadas no controle de pulgões e cochonilhas. Extremamente vorazes, elas se adaptam bem a diferentes culturas e podem ser facilmente liberadas no campo.
  • Crisopídeos (Chrysoperla spp): esses insetos apresentam larvas extremamente agressivas que podem devorar mais de 100 pragas por dia. 
  • Ácaros predadores (Phytoseiulus persimilis, Neoseiulus californicus): esses pequenos aracnídeos são especialistas no controle de ácaro-rajado e ácaro-vermelho, pragas comuns em culturas como morango e pimentão. 
  • Percevejo-pirata (Orius spp.): além de atacar tripes, pulgões e pequenas lagartas, esse predador também contribui para a polinização das culturas.

Parasitoides

Os parasitoides são inimigos naturais que desempenham um papel estratégico no controle biológico de pragas, atuando de forma única: eles completam o seu ciclo dentro ou sobre o corpo da praga, ocasionando a sua morte.

Os principais utilizados no mercado são:

  • Trichogramma spp.: essas pequenas vespas atacam ovos de lepidópteros, impedindo que as lagartas eclodam e causem danos às lavouras. São utilizadas em culturas como milho, soja e algodão;
  • Cotesia flavipes: especialista no controle da broca-da-cana, essa vespa parasita as larvas da praga, interrompendo seu ciclo biológico.
  • Telenomus podisi: parasitoide que atua sobre os ovos do percevejo-marrom, uma das pragas mais temidas da soja. 
  • Diachasmimorpha longicaudata: utilizada no controle de moscas-das-frutas, essa vespa parasita as larvas dentro dos frutos, ajudando a proteger pomares tropicais, como o citrus.
  • Aphidius colemani: parasita pulgões em hortaliças cultivadas em ambientes protegidos, como estufas. 

Patógenos

Compreendem os fungos, bactérias e vírus que atuam infectando o organismo da praga, causando doenças que levam à sua morte de forma natural e seletiva. 

Confira os principais agentes microbianos utilizados no controle biológico de pragas no Brasil:

  • Bacillus thuringiensis: essa bactéria forma cristais tóxicos para lagartas de lepidópteros, como Spodoptera spp. e Helicoverpa spp..
  • Beauveria bassiana: é um fungo entomopatogênico eficaz contra mosca-branca, percevejos e diversos besouros. Pode ser aplicado tanto no solo quanto na parte aérea da planta.
  • Metarhizium anisopliae: utilizado principalmente no controle de cupins e cigarrinha-da-cana, esse fungo é formulado em pó ou óleo em suspensão, facilitando sua aplicação em campo. É bastante eficiente em áreas com alta pressão de pragas de solo ou pragas aladas de difícil controle químico.
  • Baculovírus (como SfMNPV e CpGV): esses vírus são extremamente específicos para lagartas de determinadas espécies, como a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) ou a traça-da-maçã (Cydia pomonella).

Nematoides entomopatogênicos

Os nematoides entomopatogênicos são pequenos anelídeos do solo que atuam como agentes naturais no controle de pragas. Eles penetram no corpo do inseto-alvo se desenvolvem, o que resultam na morte do hospedeiro em poucos dias. 

Entre os principais representantes desse grupo, destaca-se o Steinernema carpocapsae, eficaz contra larvas de solo e brocas de tronco, atuando melhor em ambientes úmidos e com temperaturas entre 18 °C e 30 °C. 

Já o Steinernema feltiae é indicado para fungus gnats e moscas-de-funil, sendo ideal para viveiros e cultivos em estufas, onde há maior controle das condições ambientais.

Outras espécies importantes incluem o Heterorhabditis bacteriophora, que age contra larvas de besouros, especialmente em solos arenosos, e o Heterorhabditis indica, adaptado ao clima tropical, com bons resultados no controle da traça-do-tomateiro e curuquerê. 

Vantagens e desafios dessa modalidade

O controle biológico se destaca pela alta seletividade: inimigos naturais introduzidos atacam apenas a praga‑alvo, preservando culturas comerciais, polinizadores e demais organismos benéficos.

Assim, evita‑se o efeito colateral comum em herbicidas e inseticidas de amplo espectro, tornando‑o uma alternativa ambientalmente segura e alinhada às exigências de mercados que valorizam práticas sustentáveis.

Entretanto, apesar das vantagens, a adoção do controle biológico enfrenta barreiras técnicas e logísticas. 

É preciso selecionar o agente correto para cada praga, adequar doses, cronogramas e métodos de liberação, além de monitorar clima, umidade e disponibilidade de abrigo e alimento alternativo. 

Falhas nessa etapa podem limitar a eficácia do inimigo natural, exigindo capacitação técnica, suporte de consultores especializados e integração criteriosa ao MIP.

Outro ponto crítico é o custo e a regulamentação inicial: produzir ou adquirir inimigos naturais em biofábricas requer investimento, e a liberação em campo passa por registros e licenças que variam conforme a legislação. 

Bônus extra: melhor livro sobre controle biológico!

Para quem deseja se aprofundar de verdade no assunto, vale muito a pena reservar um tempo para o livro Controle Biológico de Pragas da Agricultura, publicado pela Embrapa em 2020 — e o melhor: é gratuito!

Organizado pelas pesquisadoras Eliana Maria Gouveia Fontes e Maria Cléria Valadares‑Inglis, o volume reúne dezenas de especialistas da Embrapa e de universidades parceiras, oferecendo uma visão completa que vai dos princípios ecológicos às estratégias de campo.

A obra destrincha os três pilares do controle biológico (clássico, aumentativo e conservativo), aborda produção comercial de bioinsumos, requisitos regulatórios e mostra como integrar tudo isso ao manejo integrado de pragas. 

Como vimos, o controle biológico de pragas desponta como um dos pilares do MIP, unindo alta seletividade, ausência de resíduos químicos e viabilidade econômica no longo prazo. 

Quando predadores, parasitoides, microrganismos e nematoides são corretamente selecionados e liberados na dose e no momento certos, é possível manter as pragas abaixo do nível de dano econômico enquanto se preserva a biodiversidade funcional do agroecossistema.

Paralelamente a esse tema, os fungos entomopatogênicos também ganham destaque. 

Descubra porque esse mercado é um dos mais promissores e rentáveis dentro do controle biológico!

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