Manejo Integrado de Pragas (MIP): guia completo para aplicá-lo sem complicações

Pode não estar visível, mas nós, produtores, sabemos que a cada safra, hordas silenciosas de insetos, ácaros e doenças ensaiam um ataque às lavouras brasileiras — e nosso lucro fica por um fio.

Foi para virar esse jogo que nasceu o Manejo Integrado de Pragas (MIP): uma estratégia que combina ciência, tecnologia e bom senso agronômico para manter as pragas abaixo do nível de dano econômico, poupando o bolso do produtor e o equilíbrio do ecossistema. 

Entender o que é MIP não é mais um diferencial; é condição para competir num agronegócio que precisa produzir mais, gastar menos e responder à cobrança crescente por sustentabilidade.

Para que você fique por dentro de como aplicar essa abordagem inteligente, este guia completo destrinchará tudo: do conceito ao funcionamento na prática, além das novidades tecnológicas que você não pode deixar de conhecer. Vamos lá?

O que é Manejo Integrado de Pragas (MIP)?

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) representa uma abordagem estratégica voltada para o controle de pragas, além de buscar conservar até mesmo potencializar os agentes naturais de mortalidade.

Para isso, combina de forma planejada diferentes métodos de controle, escolhidos com base em critérios ecológicos, econômicos e sociais.

Ou seja, o seu foco não é erradicar as pragas mas manter em equilíbrio o seu nível populacional abaixo do nível de dano econômico. 

Esse conceito originou-se em resposta ao uso indiscriminado dos defensivos agrícolas.

Isso porque eles estavam ocasionando desequilíbrio, como resistência aos inseticidas, contaminação ambiental, intoxicação dos trabalhadores entre outros fatores que persistem até os dias atuais.

Como o MIP funciona na prática?

A filosofia do MIP tem como missão alinhar com as novas necessidades ambientais atuais, a fim de manter a competitividade e eficiência no campo. 

O seu funcionamento se dá com estratégias diretamente relacionadas com três direcionamentos: qual o momento certo de prevenir, conter e, também, qual é o melhor momento para não fazer nada. Entenda mais, abaixo.

Prevenir

Como o próprio nome já indica, são abordagens que impedem que as pragas atinjam níveis que causem danos consideráveis às culturas. 

Isso é alcançado por meio de práticas agronômicas que desfavorecem o estabelecimento e sua reprodução desequilibrada. Algumas que podemos citar:​

  • Rotação de culturas: consiste na alternação de diferentes culturas em uma mesma área para interromper o ciclo de vida das pragas de determinada cultura.​
  • Seleção de variedades resistentes: é quando utilizamos cultivares que possuam resistência ou tolerância a determinadas pragas.​
  • Plantio em épocas adequadas: refere-se ao alinhamento do calendário de plantio para períodos menos favoráveis ao desenvolvimento das pragas.​
  • Manejo adequado do solo: práticas como adubação equilibrada e controle de plantas daninhas contribuem para o fortalecimento das plantas e redução de abrigos para pragas.

Conter

Quando os agentes já estão presentes na lavoura, mas ainda em níveis que não causam danos econômicos significativos, as ações de contenção são aplicadas para evitar que atinjam populações maiores. Algumas táticas são:

  • Controle biológico: introdução ou conservação de inimigos naturais das pragas, como predadores, parasitoides e patógenos, que ajudam a manter as populações de pragas sob controle.​
  • Uso de semioquímicos: substâncias químicas que interferem no comportamento das pragas, como feromônios para atração e captura em armadilhas.​
  • Controle mecânico: remoção física das pragas ou partes infestadas da planta, uso de barreiras físicas e armadilhas.

Nada a fazer

Em determinadas situações, mesmo com a presença de pragas, a melhor estratégia pode ser não realizar nenhuma intervenção imediata. 

Essa decisão se baseia na análise de que as populações da praga estão abaixo do nível de dano econômico.

Além disso, fatores naturais podem atuar no controle, como clima desfavorável ou inimigos naturais.

Dessa forma, não há necessidade de intervenção imediata e evita-se, assim, gastos desnecessários com medidas de controle.

Como implementar o MIP na sua propriedade?

A implementação bem-sucedida do MIP requer monitoramento constante das lavouras, identificação precisa das pragas e de seus inimigos naturais, e o uso das estratégias mais alinhadas com a necessidade em campo, sempre considerando a sustentabilidade e a eficiência econômica da produção agrícola.

Para isso, basta apenas seguir três etapas:

Avaliação da propriedade 

Aqui é importante conhecer a lavoura, entender o estágio de desenvolvimento da cultura, hábitos e conhecer seus respectivos inimigos naturais.

Além disso, ao identificar as pragas, torna-se possível compreender melhor seus comportamentos e os organismos que atuam como inimigos naturais. A presença desses inimigos é benéfica, pois contribui para a diminuição dos custos de produção.

Monitoramento de pragas e nível de controle  

A quantidade de pontos amostrados deve ser ajustada conforme a dimensão da área avaliada. Em cada um desses pontos, é recomendada a verificação de pelo menos 5 a 6 plantas. Esse processo de monitoramento também possibilita a obtenção das seguintes informações:

  • NE (Nível de Equilíbrio): refere-se à média da densidade populacional ao longo do tempo, sem provocar alterações permanentes no sistema;
  • NC (Nível de Controle): corresponde à densidade em que se torna necessário aplicar métodos de controle para prevenir danos;
  • ND (Nível de Dano): representa a menor quantidade de insetos que já é suficiente para gerar perdas econômicas ao produtor.

Tomada de decisão

Neste momento, são avaliados todos os fatores econômicos relacionados à cultura, assim como a viabilidade de implementar o manejo integrado de pragas.
Se durante o monitoramento for detectado um nível de dano igual ou superior ao nível de controle, a recomendação é iniciar imediatamente as ações de controle.

O Nível de Dano Econômico (NDE) representa a densidade populacional da praga — ou o grau de dano — que acarreta perdas na produção equivalentes ao custo da aplicação das medidas de controle.

De forma prática, o NDE é a menor densidade capaz de provocar prejuízos econômicos, seja por redução de produtividade ou da qualidade do cultivo.
Seu cálculo pode ser feito com a seguinte fórmula:

Exemplo:

  • Valor da produção: R$ 5.000
  • Custo da aplicação: R$ 500

Nesse cenário, o controle é economicamente viável apenas quando a densidade da praga atinge um nível que possa gerar perdas equivalentes a 10% da produção.

Quais são os principais métodos do MIP?

Controle cultural

Trata-se da adoção de estratégias agrícolas que visam reduzir a ocorrência de pragas e, ao mesmo tempo, favorecer o desenvolvimento de plantas mais resistentes e saudáveis. Entre essas práticas, destacam-se:

  • Escolha adequada do período de plantio;
  • Controle da umidade do solo por meio de irrigação ou drenagem;
  • Eliminação de plantas que possam servir como hospedeiras alternativas das pragas;
  • Mobilização do solo, que é o revolvimento para auxiliar na exposição de organismos prejudiciais à radiação solar e às altas temperaturas.

Controle biológico

O controle biológico consiste na utilização de inimigos naturais para manter as populações de pragas em níveis equilibrados. Essa forma de manejo pode ser classificada em três modalidades: natural, clássico e aplicado.

Na forma natural, o objetivo é preservar os inimigos naturais que já existem na área cultivada. Para isso, é importante evitar o uso indiscriminado de defensivos agrícolas, optando por produtos seletivos, como determinados inseticidas de origem natural.

O controle clássico é empregado principalmente no combate a pragas exóticas, por meio da introdução de inimigos naturais provenientes de outras regiões, com o intuito de restabelecer o equilíbrio ecológico.

Já o controle aplicado se baseia na liberação de organismos benéficos criados em larga escala em biofábricas, sendo uma estratégia planejada e direcionada para áreas com incidência elevada de pragas.

Vale destacar que a diversidade do agroecossistema desempenha papel fundamental: quanto maior essa riqueza, maiores são as chances de que os inimigos naturais se estabeleçam e atuem de forma eficiente na supressão das pragas.

Controle comportamental

Esse tipo de controle consiste na utilização de armadilhas desenvolvidas para atrair e capturar pragas específicas, como moscas-brancas, pulgões, tripes e minadoras. A atratividade delas se baseia principalmente nas cores amarelo e azul, que funcionam como estímulo visual para esses insetos.

As armadilhas geralmente são placas adesivas coloridas posicionadas dentro da lavoura. As de cor amarela são mais eficazes para o monitoramento de cigarrinhas, moscas-minadoras, pequenas mariposas e besouros. Já as de cor azul são preferencialmente utilizadas para capturar tripes, devido à sua sensibilidade a essa tonalidade.

Além disso, o uso de plantas iscas ou repelentes pode complementar a estratégia, ajudando na contenção de lepidópteros e besouros em determinadas culturas.

Outro recurso utilizado são as armadilhas luminosas, que servem para atrair insetos alados com hábitos noturnos. Esses dispositivos funcionam especialmente entre as 19h e 5h da manhã, quando os insetos são guiados pela luz emitida.

Controle genético

A engenharia genética tem sido explorada como uma aliada importante no desenvolvimento de práticas agrícolas mais sustentáveis. Uma das principais contribuições está na criação de organismos geneticamente modificados (OGMs), que auxiliam no controle de pragas de forma mais precisa e com menor impacto ambiental.

Hoje, há diversas espécies vegetais geneticamente modificadas com o objetivo de oferecer resistência a insetos-praga. Além das plantas, a biotecnologia também permite a manipulação de insetos, com estratégias voltadas para reduzir populações de espécies causadoras de danos.

Por exemplo, no Brasil, o milho Bt, amplamente cultivado no país, expressa proteínas Cry (derivadas de Bacillus thuringiensis) que são tóxicas à lagarta‑do‑cartucho (Spodoptera frugiperda). 

Outro ponto interessante é que o país vem avançando com eucaliptos transgênicos capazes de produzir proteínas Cry para proteger os plantios contra desfolhadores, como o psilídeo‑do‑eucalipto (Thaumastocoris peregrinus). 

Controle varietal

Consiste na adoção de cultivares que apresentam resistência natural a determinadas pragas. Esse método tem ganhado cada vez mais espaço por sua eficácia e praticidade.

As próprias plantas, por meio de sua composição genética, ativam mecanismos de defesa capazes de dificultar o desenvolvimento ou ataque de insetos específicos.

Controle químico

O controle químico é a abordagem padrão clássica que todos conhecemos. Caracteriza-se caracterizado pela utilização de produtos fitossanitários no combate a pragas. O seu uso exige atenção redobrada, especialmente no momento da aplicação.

É fundamental contar com a orientação de um(a) engenheiro(a)-agrônomo(a), a fim de garantir a dosagem correta e evitar erros como a subdosagem ou superdosagem.

Esse acompanhamento técnico ajuda a prevenir a seleção de pragas resistentes aos princípios ativos utilizados, o que comprometeria a eficácia do manejo ao longo do tempo.

Principais inovações para o MIP em 2025

Separamos as principais tendências que mostram como o agro também não está ficando para trás diante da revolução tecnológica.

Adoção da IA no agro

Já temos à nossa disposição modelos de aprendizado de máquina que analisam clima, histórico de pragas e imagens (drone + satélite) para prever surtos com alguns dias de antecedência.

QGIS para mapeamento de infestação

O software livre permite integrar shapefiles de talhões, camadas NDVI/Sentinel‑2 e ortomosaicos de drone. 

Plugins como Semi‑Automatic Classification segmentam manchas de dano, enquanto o Field Calculator gera mapas de densidade que cruzam número de ninhos × produtividade estimada.

Tecnologia de bioinsumos

Linhagens mais estáveis de bactérias, vírus e fungos entomopatogênicos, produzidas em biorreatores de menor custo, ampliam o controle biológico “on‑farm”. Formulações microencapsuladas aumentam a vida útil e a adesão na folha, mesmo sob radiação UV.

Controle biológico de precisão

Dispositivos de liberação automática de parasitoides (e.g., Trichogramma) instalados em campo, drones que soltam joaninhas em pontos‑alvo e armadilhas IoT que ajustam a liberação conforme o monitoramento em tempo real.

Como vimos, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) deixou de ser tendência para se tornar a espinha dorsal de uma agricultura moderna, rentável e ambientalmente responsável. 

Gostou do tema? Saiba como parasitoides, predadores e microrganismos podem cortar pulverizações químicas e reduzir custos na sua fazenda.

Leia agora o guia completo de Controle Biológico e aplique já na sua lavoura.

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